sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Quinze Perguntas para Carol Adams

Quinze Perguntas para Carol Adams


Publicado na quinta-feira, 2 de Outubro, 2003


usado sob permissão do Harvard Crimson

Por Elizabeth W. Green

Escritora da equipe do Crimson


Tradução: Coletivo Madu


Carol J. Adams, autora de As Políticas Sexuais da Carne e A Pornografia da Carne, adquiriu fama em círculos feministas-veganos-teóricos quando ela ligou a opressão de “espécie” com a opressão de gênero. Ela argumenta que a objetificação das mulheres e dos animais segue padrões similares: ambos o sexo frágil e os possuidores de quatro patas são sexualizados, desumanizados e finalmente abusados. FM se encontrou com ela depois de sua palestra na Quincy House e na Escola de Direito na semana passada.


1. Você era rotulada pelo campus como uma “teórica vegetariana-feminista” oferecendo uma “análise ecofeminista das opressões interconectadas do sexismo, racismo e especismo”. Em sua apresentação no salão de jantar da Quincy House na semana passada você chamou os aspargos de símbolos fálicos e disse que a salsa representava os pêlos púbicos. Deveríamos mesmo levar você a sério?


Desde quando um charuto é somente um charuto e um aspargo é apenas um aspargo? A maioria das pessoas não está disposta a olhar para as coisas de um jeito diferente do que nos treinaram a olhar. Imagens que estão em nosso rosto naturalizam a opressão, e reforçam a dominação, animalizando mulheres e feminilizando animais – servindo ambas como consumíveis.


2. O grupo de rock Consolidated canta uma canção com você no álbum Friendly Fascism. Você se consideram uma feminista amigável?


Todos os arranjos foram cumpridos com um aperto de mão e um sorriso.


3. Você mostra uma variedade de imagens pornográficas em seus livros e em suas apresentações. Alguém já veio a alguma das suas palestras e se desapontou em encontrar ecofeminismo?


Sim, e é por isso que não cobramos mais a taxa de entrada na saída.


4. Você criou a frase “antropornografia”. Você pode definir este termo, com referência ao popular seriado de ficção científica “Animorphs”?


Antropornografia é a apresentação de animais não-humanos como animais-prostitutas que desejam ser comidos. Desde a Vanity Fair deste mês com uma galinha morta de salto alto, até o “Peru Puta”, o sofrimento é transformado em diversão sexualizada. Com a antropornografia, a desigualdade das espécies está ligada à desigualdade de gênero; o desejo esconde a dominação. Enquanto acusam vegetarianas, veganas e ativistas dos direitos animais de antropomorfizar os animais – de projetar qualidades humanas nos animais não-humanos – parece que na verdade são onívoros e antropornógrafos que fazem isso. Ativistas dos direitos animais sabem que os animais são como os seres humanos porque os seres humanos são animais. “Animorphs”, através deste simpático tema mágico, sugere esta verdade também.


5. Eu perguntaria qual seu animal antropornográfico preferido, mas eu sinto que isso levaria a uma situação de “o pior dos dois males”. Então: se você pudesse escolher algum personagem antropornográfico para dar um soco na cara, qual seria?


Pessoalmente, eu acredito na não-violência, mas algumas das minhas amigas se ofereceram para derrubar o Hugh Heifer por mim.


6. Você tem algum animal de estimação?


Eu não tenho nenhum animal de companhia.


7. Você tem alguma coisa contra animais matando e comendo uns aos outros?


É sempre fascinante como onívoros se tornam obcecados com os hábitos alimentares dos lobos, dos leões e das hienas quando começamos a discutir como os animais de fazenda são criados em armazéns, alimentados com jornal e partes recicladas de outros herbívoros, e então assassinados. Vejamos, são os lobos ou os onívoros humanos que poderiam viver com tofu, tempeh e outras proteínas vegetais?


8. Você é bastante severa contra a pornografia e o estupro. Mas algumas pessoas argumentam que a escapatória proporcionada pela pornografia na verdade previne a violência sexual. Alguma sugestão para uma forma alternativa de escapatória?


Martha Vicinus explica o problema definindo como é a sexualidade de um ponto de vista “esmagadoramente masculino e heterossexual”: “A sexualidade é definida em termos do orgasmo masculino; é como uma força poderosa que vai aumentando até que é gasta em uma única ejaculação.” Quando tivermos igualdade, talvez nós consigamos também visualizar uma sexualidade que não precisa de objetos.


9. Qual seu prato vegano preferido?


Ravioli caseiro com molho pesto e ricota de tofu.


10. Quando ela te apresentou na semana passada, a vice-coordenadora da Quincy House, Jayne Loader, disse que quando ela é confrontada com um dilema ético ela se pergunta “O que a Carol faria?” Digamos que você tenha que escolher entre comer um pernil de carneiro inteiro e derrubar a Nona Emenda. O que a Carol faria?


Ela apontaria que esta pergunta faz parte de um jogo mental cartesiano, um ponto de vista que surge do privilégio masculino que vê tudo como feito de idéias, de abstrações. É o mesmo ponto de vista que acredita que as mulheres não deveriam votar e que os carneiros não têm sentimentos ou costelas – apenas pernis para outra pessoa devorar.


11. No filme American Pie, uma torta de maçã serve para despertar a sexualidade de um homem jovem. Já que a torta de maçã não contém nenhum produto cárneo, e pode ser feita sem leite, você aprova esta forma de sexualizar produtos alimentícios?


Eu acho que é uma homenagem a Portnoy's Complaint, onde ele se masturbou com um pedaço de fígado.


12. Eu sou uma onívora, ou, como você chama, “uma vegetariana bloqueada”. Eu vou pro Inferno?


Não, você o está vivendo agora. Você acha que mudar é difícil demais; não mudar é mais difícil, você apenas ainda não percebeu isso.


13. Você disse no salão de jantar da Quincy que você surgiu com a idéia para As Políticas Sexuais da Carne enquanto caminhava pelas ruas de Cambridge. O que nesta bela cidade te fez pensar?


É o ato de caminhar que é importante nesta estória. Caminhar, por ser rítmico, permite ao cérebro direito uma oportunidade para incubar idéias.


14. Você frequentemente fala sobre especismo ou opressão de espécie. Além de não comê-los, o que mais podemos fazer para elevar os animais na sociedade?


Pedestais sempre funcionam em uma emergência. Saltos, como eu aponto em A Pornografia da Carne, danificam a espinha. Eu estou interessada em conseguir com que os seres humanos parem de ver os animais não-humanos como seus para usar, comer, experimentar ou vestir. É curioso o quanto os seres humanos são dependentes de sua auto-conceitualização da existência dos animais como opostos, como inferiores, como os dominados, como os comestíveis.


15. Você tem levado sua mensagem a muitas faculdades ao redor do país. Eu tenho certeza de que nem todos os públicos a receberam igualmente. Qual foi a pior recepção que você já teve?


Biscoitos secos e suco de uva estragado, mas felizmente ninguém nunca preparou animais mortos ou ovos de galinha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sinceramente eu esperava mais dela. Mas tá valendo, parabéns pra galera que traduziu! =)