quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Além do bem-estar físico

Matéria sobre VEGetariANISMO que saiu no Jornal de Brasília.


Com o pensamento nos direitos dos bichos, os vegans optaram por não consumir carne e alimentos derivados de animais.


Grasielle Castro

Eles são pessoas como você. Não há nenhuma diferença visível. Porém, o incomum ocorre na hora de comer. Adotaram como estilo alimentar o veganismo: não come carnes, ovos ou derivados de origem animal. Geralmente, esta opção surge seguida da conscientização de libertação animal.
No início, para quem está inserido em uma cultura que tem tradição de comer carne, é difícil até ser vegetariano. O estudante de Ciências Sociais, Daniel Kirjner, 22 anos, é vegan há dois anos e esclarece logo. "No início, as pessoas acham graça. Antes de me interessar pela libertação animal, eu até zoava meus amigos que são vegans, mas com o tempo aquilo passou a fazer sentido para mim. Senti-me incoerente comendo carne e achei que o certo fosse parar com derivados também".
Mas logo as dificuldades aparecem. A primeira surge quando o vegan vai comer fora de casa. As opções são poucas e quase não há cultura de alimentos de origem vegetal. Daniel esclarece que as poucas alternativas estão relacionadas à nutrição, saúde ou estética e que à noite, o momento de diversão, de alguma maneira, exclui estes princípios. Porém ele ressalta que, o sacrifício que o vegan pode fazer é bem menor que o dos animais. "Esse é o meu jeito de se virar, ter um estilo prazeroso e coerente".
No entanto, a restrição à cultura de alimentos de origem vegetal ainda faz com que o termo vegan seja alvo de preconceitos. O assistente social Leonardo Ortegal, 22 anos, diz que para evitar confusão, considera-se um vegetariano estrito. "É um termo mais próximo do vocabulário brasileiro e evita polêmicas". Para ele, esta é uma forma de não consumo consciente. Tanto, quanto sua namorada Natália Dantas e a filha do casal Luísa Ortegal, quatro anos, são vegetarianos. Para saber mais sobre o veganismo, Leonardo faz parte de um grupo de estudos vegetariano. "No grupo a gente estuda toda matemática vegetariana. Desde culinária a tratamentos de animais, porque eles merecem o mesmo tratamento que devia dar ao nosso próximo, tratamento ideal de direito à vida. No momento, estamos lendo o livro Jaulas Vazias, de Tom Regan, principal filósofo e ativista dos direitos animais.
Em prol dos animaisA luta pela conscientização alimentar não está restrita aos estudos. Existe ainda o Madu, um grupo de ação que começou com uma série de manifestações contra o uso de animais em circos. O nome veio de uma elefante fêmea de circo, que matou três treinadores. Ela sofria da Síndrome do Elefante, que a tornava agressiva devido os maus-tratos e falta de alimentação adequada.
Segundo o estudante Júnior Pereira, 18 anos, um dos organizadores do grupo, as ações são interligadas com outras cidades. Ele adianta que entre os planos estão a Verdurada, um mutirão de reflorestamento em áreas degradadas, um ciclo de palestras e debates nas escolas do DF. "E já temos agendado vários eventos para o próximo dia 4 de outubro, que é o dia mundial dos animais", completa.


Straight edge: o xis da questão
Existe, ainda, uma ideologia que vai além do pensamento vegan. O Straight edge engloba a raiz vegan e adiciona a ela ingredientes relacionados ao comportamento. Por exemplo, o sXe não usa qualquer tipo de droga, acredita que o rock é possível sem drogas e sexo promíscuo. Embora o modo de vida straight edge não incluir nenhuma idéia política ou social, muitos dos adeptos a este estilo de vida defendem a anarquia, o socialismo ou a sustentabilidade.
A marca clássica do sXe é o X, geralmente, tatuado na mão. Em 1980, quando começou o sXe, que é completamente relacionado à música, os jovens iam a shows e, para que não consumissem bebidas alcóolicas, era feito um X na mão dos menores. O X acabou se tornando uma forma de negação, como quem diz eu não quero beber, eu quero me diverti. Uma das bandas que deu o primeiro passo no movimento foi o Minor Threat com os versos: "I Don't Drink, I Don't Smoke, I Don't Fuck - At Least I can fuckin' think! [...]" (Eu não bebo, eu não fumo, eu não fodo - Pelo menos eu consigo pensar, porra!).
VerduradaNo Brasil, o sXe está em constante crescimento. Bimestralmente, desde 1996, em São Paulo ocorre a Verdurada, o evento mais importante do calendário hardcore-punk-straightedge brasileiro. Os objetivos de quem organiza a verdurada são basicamente dois: mostrar que se pode fazer com sucesso eventos sem o patrocínio de grandes empresas e sem divulgação paga na mídia e levar até o público a música, as idéias e opiniões de pensadores e ativistas divergentes.
Em Brasília, uma das bandas que usam a música como mídia para disseminar a idéia é a Linha de Frente (foto). Segundo Frederico Galeno, baterista da banda, a intenção é fazer com que as pessoas reflitam sobre o que acontece. "Neste ano, tocamos no Porão do Rock e quando nós falamos, as pessoas pararam e escutaram. Com certeza, pelo menos, uma parou para pensar e isso já vale", anima. Frederico completa e diz que nas músicas da banda costuma falar sobre veganismo, que agrega valor ao sXe e é algo maior. O mote da banda é ser a favor da vida, dos animais, da libertação da terra, do ser humano em geral e contra o aborto.
Apesar de o sXe, ser um modo de vida mais intenso que o veganismo, não é necessariamente preciso que os adeptos sejam vegan. É comum dizer que os sXe que ainda não são vegan, serão com tempo. Mas isso ainda é muito pessoal, Frederico conta que não considera sXe uma pessoa que não é vegan.

Link da Fonte:
http://www.clicabrasilia.com.br/impresso/noticia.php?IdNoticia=303118&busca=veganismo