quarta-feira, 4 de março de 2009

“Bem-Estaristas” pelos Direitos Animais: Uma Antítese

por Joan Dunayer


Revista Satya

Março de 2005


Tradução: Coletivo Madu


“Sufoquem as galinhas!” Um grito de guerra imaginário, repugnante demais para ser real. No entanto, alguns grupos de proteção animal, como o PETA e o United Poultry Concerns, vêm pedindo que matadouros sufoquem as galinhas até a morte em suas gaiolas de transporte ao invés de deixá-las conscientes enquanto elas são acorrentadas, paralisadas eletricamente, e têm suas gargantas cortadas. O assassinato em massa das galinhas é desnecessário, injusto, e invariavelmente cruel. Pedir que as galinhas sejam sufocadas sugere o contrário. Sugere que o problema é como elas são mortas. Uma campanha por um assassinato menos cruel propõe uma nova forma de cometer assassinato em massa. Tal campanha é “bem-estarista”.


Campanhas “bem-estaristas” estimulam a noção de que animais escravizados e assassinados podem ter bem-estar. Bem-estar genuíno é incompatível com a escravidão, o assassinato e outros abusos, então eu coloco aspas ao redor de bem-estar quando o contexto é malefício especista. Campanhas “bem-estaristas” são contra os direitos. Elas advogam maneiras diferentes de violar os direitos morais dos animais não-humanos. Campanhas denominadas de abate humanitário advogam uma maneira diferente de violar o direito dos animais não-humanos à vida. Campanhas por confinamento menos severo advogam uma maneira diferente de violar o direito dos animais não-humanos à vida.


O PETA pressionou o McDonald's, o Burger King e o Wendy's a exigirem que seus fornecedores de ovos e carne confinem os animais não-humanos menos cruelmente. Estes restaurantes agora especificaram, entre outras coisas, que seus fornecedores de ovos devem aumentar o espaço designado a uma galinha poedeira enjaulada de 48 polegadas quadradas a pelo menos 67. Uma galinha tem o direito moral de não ser confinada nem a 48 nem a 67 polegadas quadradas. Muitas e muitos ativista gritaram “O que nós queremos? Direitos animais! Quando os queremos? Agora!” Com boa razão, nenhuma ou nenhum ativista já gritou “O que queremos? Jaulas um pouco maiores! Quando as queremos? Quando o McDonald's ou outro abusador em massa exigir que seus fornecedores os usem!” Qualquer tentativa de trabalhar com, ao invés de contra, indústrias de abuso animal deve levantar uma grande bandeira vermelha. É moralmente errado explorar um animal não-humano em qualquer quantidade de espaço, dentro ou fora de uma jaula. Essa é a mensagem que protetoras e protetores animais deveriam defender.


Nós não precisamos comer partes dos corpos de galinhas mortas por asfixia ou qualquer outro método. Nós não precisamos comer ovos de galinhas poedeiras cativas em jaulas ou de qualquer outra forma. Nós não precisamos comer alimentos de quaisquer animais não-humanos. Ao invés de clamar por assassinato ou confinamento menos cruel, nós deveríamos promover o veganismo. Simplesmente publicitar a realidade da exploração animal pode levar muitas pessoas a se tornarem veganas. Persuadir as pessoas a adotarem um estilo de vida vegano reduz o número de animais não-humanos que sofrem e morrem. Isso também diminui o apoio público à indústria da carne, da vivissecção e de outras formas de exploração animal, aproximando o dia em que elas sejam banidas.


Algumas e alguns ativistas defendem tanto o “bem-estarismo” quanto o veganismo. Seu “bem-estarismo” impede a difusão do veganismo por insinuar que a exploração animal é inevitável e, portanto, aceitável, enquanto “humana”. Nossa mensagem ao público deve ser clara e consistente: nós não precisamos explorar outros animais; explorá-los é injusto e sempre causa sofrimento. Assim como modelos do veganismo devem aderir ao veganismo em seu estilo de vida, porta-vozes do veganismo devem aderir ao veganismo em seu ativismo. Não faria sentido defender o veganismo em um minuto e defender a produção de carne ou ovos supostamente mais palatável no próximo. Para ter poder total, nossa oposição à exploração animal deve ser consistente.


Nós devemos persistentemente advogar os direitos dos animais não-humanos – ou seja, sua emancipação. “Bem-estaristas” que se chamam de ativistas pelos “direitos animais” destroem o conceito de direitos animais. Elas e eles confundem o público a pensar que o aprisionamento, o assasinato e outros abusos especistas podem ser consistentes com os direitos animais. “Bem-estaristas” substituem o direitos dos animais não-humanos à vida com um “direito” de serem assassinados em menos terror e dor. Elas e eles diminuem o direitos dos animais não-humanos à liberdade a um “direito” a serem injustamente aprisionados em mais espaço. Na verdade, alguém que não possui os direitos mais básicos – à vida e à liberdade – não possuem nenhum direito.


Enquanto advogarmos a emancipação total, nós podemos conquistar emancipações parciais, através de proibições abolicionistas (emancipacionistas). Todas as proibições abolicionistas protegem pelo menos alguns animais de alguma forma de exploração. Eles previnem que os animais entrem na situação exploratória e podem também remover vítimas atuais daquela situação. Por exemplo, uma proibição a elefantes em “apresentações com animais” emancipam os elefantes de circos e outras situações de performance. Uma proibição à caça de ursos previne os ursos de serem machucados ou mortos: previne, ao invés de modifica, seu abuso. Ativistas podem trabalhar por qualquer número de proibições, incluindo proibições a produtos de pelt, fígados gordurosos de aves, a clonagem de animais de estimação e mamíferos marinhos em prisões aquáticas. Por enquanto, proibições abolicionistas não vão emancipar a maioria dos animais não-humanos, mas elas irão emancipar alguns e nos mover na direção correta. Nós não podemos proibir os produtos especistas mais populares (como a carne de peixes, leite de vacas e ovos de galinhas) até que construamos oposição pública a estes produtos.


Enquanto não pudermos alcançar proibições abolicionistas, nós podemos nos engajar em boicotes abolicionistas. Apesar deles não terem a força da lei, boicotes podem ser altamente eficientes. Uma campanha “Boicote aos Ovos” avançaria a emancipação das galinhas. Ao convencer mais pessoas a parar de comprar ovos, diminuiria o número de galinhas que sofrem enquanto aumentaria a oposição à inteira indústria de ovos. Similarmente, um boicote a produtos de cuidado corporal que não são livres de crueldade reduziria a vivissecção e aumentaria a demanda por produtos livres de crueldade. Em adição ao boicote a produtos em particular, ativistas podem boicotar instituições especistas em particular como corrida de cavalos e zoológicos.


“Bem-estaristas” comumente dizem “Eu apóio tudo que reduz o sofrimento animal”. A longo prazo, medidas “bem-estaristas” aumentam o sofrimento porque elas perpetuam a exploração. Considere a Lei de Métodos Humanos de Abate (LMHA). Se você está informada ou informado sobre o que ocorre em matadouros, você sabe que o LMHA falha profundamente em proteger os animais não-humanos. Primariamente, ela aumenta o apoio público ao assassinato ao legitimar a indústria da carne e passar a falsa impressão de que as vítimas são mortas “humanamente”. Medidas “bem-estaristas” são largamente fúteis porque elas deixam os animais nas mãos de seus opressores. Somente medidas emancipativas, que honram os direitos morais dos animais, podem proteger adequadamente os animais não-humanos. Genuíno bem-estar animal requer a liberdade da exploração.


Joan Dunayer é a autora de Animal Equality: Language and Liberation (2001) e o recém lançado Speciesism (2005), ambos da Ryce Publishing.