domingo, 21 de dezembro de 2008

Espaço Autônomo Alvorada

ALVORADAda foi um espaço autônomo temporário dedicado a contra- kultura e a vivências e praticas AnarcoPunk-Squatter, foram 40 dias de subversão e anti-arte contra a propriedade privada no mais puro principio D.I.Y. – Faça Você Mesmo.
Vejam que linda ocupação anarco-vegana:
http://alvoradada.blogspot.com/

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Carol Adams - Livros Gratuitos!!


Pessoal, o google books está disponibilizando dois dos livros mais importantes da carreira de Carol Adams. The Sexual Politics of Meat e The Pornography of Meat tratam das ligações entre sexismo e especismo, tornando explícita a forte conexão entre a objetificação de animais não-humanos e a objetificação de mulheres humanas, atribuindo ao Patriarcado uma grande responsabilidade na opressão animal.

The Sexual Politics of Meat
(As Políticas Sexuais da Carne)

http://books.google.com/books?hl=pt-BR&lr=&id=AwrwRKNavtAC&oi=fnd&pg=PA12&dq=meat+hierarchy&ots=C8LqzgqPHJ&sig=ED2-D0RqWxDrFMp54GE_OWEmJY0#PPA3,M1

The Pornography of Meat
(A Pornografia da Carne)

http://books.google.com/books?hl=pt-BR&lr=&id=PE5bszpVat4C&oi=fnd&pg=PA11&dq=%22carol+adams%22&ots=oBXJj88cb0&sig=go6mMr-mGQwsLSiYiA3fhHwDiMo#PPA7,M1

Infelizmente ainda não há tradução para português (nem mesmo comercialmente), mas estou vendo com uma amiga se pegamos pra traduzir. Voluntári@s?

Entrevista com Carol Adams

Muito Vegetariana

Entrevista com Carol Adams


Nervy Girl: A Revista da Mulher Pensante

Novembro/Dezembro de 2002, 36-37, 50-51


Entrevista por Leah Bobal

www.nervygirlmagazine.com


O inovador primeiro livro de Carol Adams, As Políticas Sexuais da Carne, publicado em 1990, determinou as fundações da teoria feminista-vegetariana ao reconhecer o relacionamento entre o tratamento dos animais e o tratamento das mulheres. Desde então, ela foi autora e editora de livros e artigos sobre eco-feminismo, violência doméstica, vegetarianismo e advocacia animal.


Nos anos 1970, Adas começou a trabalhar como uma ativista anti-violência, em adição a lutar contra o racismo, a pobreza e o sexismo. Ela começou uma hotline para mulheres agredidas na Nova Iorque rural depois de terminar seu mestrado na Yale Divinity School em 1976. Adams também serviu como representante do comitê da Comissão sobre a Violência Doméstica do governo de Nova Iorque (1984-87). Ela atualmente vive no Texas, onde ela pratica yoga, meditação e criar refeições veganas.


Além de falar sobre assuntos vegetarianos e feministas, Adams exibiu a apresentação Políticas Sexuais da Carne em universidades ao longo do país. O trabalho de Adams é também apresentado em Uma Vaca na Minha Mesa, um documentário premiado sobre nosso relacionamento com animais não-humanos pela cineasta de Vancouver Jennifer Abbott. Adams está atualmente trabalhando em seu novo livro, A Pornografia da Carne. Uma mulher bondosa e poderosamente cerebral, Adams fala aqui com Nervy Girl! sobre o passado, o presente e o futuro do vegetarianismo.


Porque você se tornou vegetariana?


A filósofa feminista Sandra Barky observou que “feministas não vêem coisas diferentes que as outras pessoas, elas vêem as mesmas coisas de forma diferente.” Eu me tornei vegetariana porque comecei a ver as mesmas coisas de forma diferente. Especificamente, a morte do meu pônei me levou a enxergar de forma diferente. No fim do meu primeiro ano na Yale Divinity School, eu retornei para Forestville, Nova Iorque, a pequena cidade de interior onde eu cresci. Enquanto eu estava desfazendo a mala, eu ouvi uma batida furiosa na porta. Nosso vizinho me cumprimentou quando eu abri a porta. Ele exclamou, “Alguém acabou de atirar no seu pônei!” Eu corri, com meu vizinho, até o pasto dos fundos atrás de nosso celeiro, e encontrei o cadáver do pônei que eu havia amado. Aqueles passos descalços entre os espinhos e os restos de uma velha macieira me deixou cara a cara com a morte de um animal não-humano. Naquela noite, enquanto eu mordia um hambúrguer, distraída com a morte do meu pônei, eu parei na metade. Eu estava pensando em um animal morto mas comia outro animal morto. Qual era a diferença entre esta vaca morta e o pônei morto que eu estaria enterrando no outro dia? Eu não podia invocar nenhuma defesa ética para um favoritismo que excluiria a vaca da minha preocupação porque eu não a tinha conhecido. Agora eu via a mesma coisa de forma diferente.


Como você se sente sobre o uso geral do termo “vegetariana”? É importante se ater a definições ou há lugar para flexibilidade? Qual a sua definição de vegetariana?


Eu gosto do termo vegetariana. É um caso de “auto-nomeação”. As próprias vegetarianas e vegetarianos escolheram o termo, não de “vegetal”, mas do latin vegethus, que é vigoroso. Mas a palavra vegetariana está ameaçada porque onívoros que não comem animais de quatro patas acham que são vegetarianos ou vegetarianas. Isto acontece, eu acho, porque “carne” é geralmente igualada com carne “vermelha”. Então as pessoas acham que há seres “polo-vegetarianos” ou “pesco-vegetarianos”. Isso também acontece porque muitas pessoas pensam que é mais saudável não comer carne de animais de quatro patas, mas que é saudável comer carne de galinhas mortas ou peixes mortos.


Muitas vegetarianas e vegetarianos tiveram a experiência de descobrir que este “pseudo-vegetarianismo” se antecipou a elas e eles em um restaurante e, se chamando de “vegetarianos”, pediram galinha ou peixe. Isto ensina a todo mundo com quem interage que o vegetarianismo aceita animais mortos. Quando uma verdadeira vegetariana entra no mesmo restaurante, ou come com as mesmas amigas ou amigos expostos ao falso vegetarianismo, é a nós que podem oferecer comida de alguém com um rosto.


Como estão relacionados o tratamento dos animais e o tratamento das mulheres em nossa cultura?


Nós vivemos em um mundo patriarcal e racista no qual homens ainda têm poder considerável sobre as mulheres, tanto na esfera pública (emprego, política) e na esfera privada (no lar, onde os resultados da violência contra a mulher resulta na morte de quatro mulheres por dia neste país). Gênero não tem a ver com diferença, tem a ver com dominância. A maneira como o gênero está estruturado em nosso mundo – a maneira como os homens têm poder sobre a mulher – está relacionado a como nós vemos os animais, especialmente animais que são consumidos.


Por bastante tempo o que era ser humano era na verdade o macho branco. Masculinidade significa “nem mulher nem animal”, e a mulher não estava incluída em masculinidade porque ela é tanto mulher quanto animal. Nós tivemos movimentos que tentaram expandir a definição de ser humano porque a verdade é que quando algo é definido como não-humano ele não precisa ser levado a sério – pode ser abusado, pode ser maltratado.


A opressão requer violência e implementos de violência. Esta violência normalmente envolve três coisas: objetificação de um ser até que ele é visto como um objeto ao invés de um ser vivo, que respira e sofre; fragmentação, ou esquartejamento, até que a existência do ser como um ser completo é destruída; e então consumo – tanto o consumo literal do animal não-humano ou o consumo da mulher fragmentada através da pornografia, através da prostituição, através do estupro, através do espancamento.


Rapidamente delineie o coração da teoria feminista-vegetariana que você originalmente delineou em As Políticas Sexuais da Carne.


As Políticas Sexuais da Carne significam que o que, ou mais precisamente, quem nós comemos é determinado pela política patriarcal de nossa cultura, e que os significados associados ao ato de comer carne inclui significados relacionados à virilidade. As Políticas Sexuais da Carne argumenta que o maneira com que a política de gênero está estruturada em nosso mundo está relacionada a como nós vemos animais, especialmente animais que são consumidos. O Patriarcado é um sistema de gênero que está implícito em nossas relações ser humano/animais. Além disso, a construção de gênero inclui instruções sobre as comidas apropriadas. Ser um homem em nossa cultura está ligado a identidades que eles possuem ou não possuem – o que homens “de verdade” fazem e o que não fazem. Não é somente uma questão de privilégio, é uma questão de simbolismo. A masculinidade é construída em nossa cultura, em parte, pelo acesso ao consumo de carne e o controle de nossos corpos.


Todo mundo é afetado pelas políticas sexuais da carne. Nós podemos jantar em um restaurante em Chicago e encontrar este item especial do cardápio: “Peitos de Peru Tamanho GG. Este sanduíche é ENORME.” Através das políticas sexuais da carne, imagens de consumo como esta provém uma maneira de nossa cultura falar abertamente e fazer piadas sobre a objetificação de mulheres sem ter que reconhecê-lo. As políticas sexuais da carne também trabalham em outro nível: a superstição persistente de que carne dá força e que homens precisam de carne. Tem havido um ressurgimento da “febre do bife” no qual a carne está associada com a masculinidade.


Isto está ligado a um mito sobre a força – homens precisam de força, e eles a conseguem da carne – é claro, vários esportistas vegetarianos refutam este mito, mas mitos são difíceis de serem derrubados. Está também ligado à associação histórica de classe da carne como uma comida da classe superior, especialmente na Europa nos últimos séculos (os únicos com acesso a grande quantidade de carne todos os dias). Uma cultura sexista irá recriar o sistema de classe nos relacionamentos entre homens e mulheres – os homens têm acesso ao que as mulheres não podem ter. Então se acreditou que homens merecem, ou têm o direito à carne em uma família. Foi a prerrogativa masculina.


Finalmente, há uma idéia de que a carne irá fazer os homens felizes com você – sua parceira. Ao longo dos anos, tem havido artigos dizendo às mulheres como preparar carne de modo que o homem delas fique feliz. Um exemplo dos anos 90 é um artigo ridículo em uma revista feminina (escrita por uma antiga colunista do New York Times!) que começava “O que os homens querem? Na minha experiência, a resposta é ótimo sexo e um grande filé, não necessariamente nesta ordem”.


Agora, eu tenho que dizer, que essa é uma visão bem limitada dos homens também. Porque acreditar em presunções sobre papéis limitantes como estes?


Em As Políticas Sexuais da Carne, eu argumentei que as mulheres se tornam vegetarianas por várias razões. À medida em que entramos em contato com nossos corpos, nós aprendemos a ouví-los, e percebemos que nos sentimos melhor depois de ficar sem carne. Além disso, muitas mulheres, por causa da maneira com que somos criadas, possuem uma ética que não tem a ver com direitos (quem tem direitos e porquê) mas com cuidado (que precisa de nossa ajuda e porquê). Isto acontece simplesmente com alguém olhando para seu prato e dizendo “Eu estou comendo um animal morto. Como este animal morreu? Como esse animal morreu? Porque estou participando nisto?”


Você tem um novo livro sendo publicado, como ele colabora com o apontado pelas Políticas Sexuais?


A Pornografia da Carne examina a maneira com que a cultura popular, a publicidade e a pornografia juntas criam um ambiente hostil e degradante para as mulheres e os animais que é retratado como “divertido”. Ela mostra como os animais são sexualidados/feminilizados e as mulheres são animalizadas. Ela introduz a idéia de “antropornografia” – retratando animais como prostitutas, e dando exemplo de propagandas que fazem isso. Examinando a “fêmea da espécie”, eu mostro como as mulheres se tornam portadoras da “identidade de espécie”, e os animais de fazenda perderam valor em nossa cultura por causa da necessidade de controlar a fêmea da espécie para assegurar a representação dos animais para que eles se tornem carne. Então espécie se torna uma categoria que está associada com “fêmea”.


Depois de mais de 20 anos como uma feminista vegetariana, você vê alguma mudança no modo como tratamos animais e/ou mulheres?


Eu queria poder dizer que sim... Mas o governo incentiva as indústrias da carne e do leite. Matadouros aceleraram a linha de assassinato, até o ponto em que os trabalhadores deve manipular (matar e desmembrar) os animais em um ritmo assustadoramente rápido. Quando eu escrevi As Políticas Sexuais da Carne, em 1990, uma estimativa de 6 bilhões de animais terrestres morriam por ano para onívoros nos Estados Unidos. Na época em que a edição de aniversário de 10 anos de As Políticas Sexuais da Carne foi publicada, o número estava em 9 bilhões e subindo.


Além disso, a pornografia cresceu incrivelmente pela Internet. A pornografia torna sensual a desigualdade feminina. A boa notícia é que mais e mais ativistas estão fazendo as conexões entre uma visão de mundo patriarcal e o modo como nós tratamos os outros animais e a Terra. O fato é que o vegetarianismo está bastante presente na consciência popular nestes dias – grandes companhias nos Estados Unidos estão comprando companhias de comida saudável e produtoras de soja por todos os cantos.


Muitos onívoros alegam que é “natural” para seres humanos comerem carne. Qual sua abordagem a respeito deste argumento?


Há duas coisas que precisamos responder quando o consumo de carne é “naturalizado”. Um é que, supostamente, nós seres humanos podemos comer carne porque somos diferentes dos outros animais – e então de repente a justificativa para comer estes animais não-humanos é que outros animais o fazem. Nos tornamos inconsistentes. Segundo – e eu acredito que isto seja parte da cultura patriarcal – nós não apenas valorizamos simbolicamente os carnívoros em nossa cultura, nós valorizamos aqueles que são chamados os carnívoros de topo carnívoros que na verdade comem outros carnívoros. A maioria dos carnívoros comem herbívoros. Seres humanos são um bom exemplo – nós comemos vacas, ovelhas, etc. No entanto, nós valorizamos leões e águias em uma mitologia cultural – seres carnívoros que na verdade são mais carnívoros do que somos. O fato é que menos de seis por cento dos animais realmente são carnívoros.


Eu acho que o que realmente está acontecendo com este argumento é que as pessoas estão construindo defesas ao redor de seu consumo de carne porque elas já estão desconfortáveis com o fato de que elas estão comendo animais mortos. Elas simplesmente usam estes argumentos que não são muito lógicos para evitarem refletir sobre seu próprio relacionamento com o vegetarianismo.


Em Nem Homem Nem Fera, você discute o privilégio. Parece agora que grãos/verduras etc. - comidas que foram uma vez consideradas somente para cidadãos e cidadãs de segunda classe (pessoas ricas comiam carne) – são agora produtos de luxo nos E.U.A. Especificamente, estou me referindo à produção de orgânicos e alternativas à carne vendidas em lojas de comida saudável. Como podemos tornar estas alternativas saudáveis mais baratas?


Primeiro, o governo fornece subsídios à indústria da carne e do leite. Se não tivéssemos um relacionamento governamental socializado com estas indústrias os hambúrgueres custariam $35. Rapidamente o veganismo seria visto pelo que é: uma maneira barata de comer. Segundo, foi sugerido que pudéssemos colocar nossas despesas de saúde e alimentação juntas – então o custo de uma dieta vegana iria ser visto como incrivelmente baixo. Nos Estados Unidos, seis das dez doenças mais mortais foram relacionadas à dieta com alta gordura e alto colesterol da carne e do leite. Terceiro, a razão pela qual a maior parte do mundo existia primariamente em uma dieta vegetariana era porque grãos, legumes e feijões são baratos.


Como o vegetarianismo é uma prática espiritual para você? Como ser vegetariana mudou sua vida?


Eu decidi mudar e me tornar vegetariana e então, ao mudar, eu comecei a experimentar o mundo de uma forma mais positiva. Eu aprendi a como fazer um compromisso através do vegetarianismo, e então eu aprendi a como manter um compromisso. Qualquer pessoa que deseja mudar o mundo ou a si mesma pode aprender isto também. Vegetarianismo oferece isso para todo mundo.


Eu acredito que nós seres humanos frequentemente falhamos em reconhecer que somos animais, que nós na verdade somos uma parte da natureza, e que estamos todos interconectados e inter-relacionados. Viver uma vida espiritual, para mim, significa honrar esses inter-relacionamentos.


Para mim, fazer o menor mal possível é um caminho muito espiritual e um caminho com integridade. As pessoas acham que vão causar mal a si mesmas ao largar a carne – há alguma natureza protetora que as impede de ligar os pontos entre o ambiente e o bem-estar e a saúde humana. Vegetarianismo surge de um desejo de tornar completo. É uma prática espiritual que nos liga ao resto da natureza e ao resto de nossa própria natureza. Ele reconhece a interconectividade de todos os seres e gera compaixão em relação a eles. É um ahimsa vivo, a ausência de violência.


Ser vegetariana é ser uma testemunha: eu farei o menor mal possível. Ser vegetariana é celebrar boa comida da terra. Ser vegetariana é experimentar graça, e nesta graça eu me alimento. Uma vida espiritual é uma vida de abundância, mas quando se trata de comer carne, as pessoas acham que vão experimentar escassez. A coisa mais importante que veganas e veganos podem fazer é viver uma vida de abundância.


No prefácio de Nem Homem Nem Fera, você relata que seu comprometimento principal foi o movimento feminista. Por quê? Sua perspectiva mudou ao longo dos anos para, digamos, passar a se comprometer ao movimento de direitos animais?


Quando eu digo que o meu primeiro comprometimento é o movimento feminista, eu não estou dizendo que não tenho comprometimento com o movimento de direitos animais. Eu não vejo o primeiro comprometimento como eliminando outros comprometimentos. Eu quero dizer que meu ativismo pelos animais é feito a partir de uma perspectiva feminista e mantém conexões entre a opressão dos animais e das mulheres. Por exemplo, a questão da violência contra as mulheres inclui a questão da violência contra animais pelos agressores. Até que reconheçamos um agressor, sua parceira e quaisquer animais que vivem com ela estão em perigo. Ou a questão dos direitos de aborto. Há ativistas dos direitos dos animais que argumentam que os direitos animais deveriam ser contra o aborto. Mas de uma perspectiva feminista, eu vejo que a questão é a gravidez forçada: eu sou contra a gravidez forçada de mulheres e fêmeas de outras espécies. Então o Feminismo provém o contexto para a proteção dos animais. Este é um ponto chave, já que algumas campanhas publicitárias pelos direitos animais podem terminar sendo misóginas quando estão cortadas de uma análise social maior.


Quais são as ações que feministas vegetarianas podem tomar para encorajar o vegetarianismo?


Cozinhar refeições veganas deliciosas e compartilhá-las. Encomendar panfletos como “Por que Veganismo?” e “Vida Vegetariana” ou “101 Razões Pelas Quais Sou Vegetariana” por Pamela Rice, e distribuí-los. Trabalhar em abrigos de mulheres agredidas para assegurar que recursos estejam disponíveis para os animais de companhia de mulheres agredidas e se oferecer para cozinhar uma refeição vegana lá. Se forem estudantes ou professoras, perseguir idéias feministas-vegetarianas escrevendo artigos. Quando conferências feministas oferecerem animais mortos como comida, escrever cartas inteligentes que levantam a questão do vegetarianismo feminista. Escrever cartas ao jornal local e responder a idéias sexistas/especistas, especialmente quando as vê combinadas. Aproveitar a vida. Sentir que seu veganismo está fazendo uma diferença e vê-lo como uma oportunidade de causar o menor mal possível. Não sentir que deve responder cada argumento que ouve de um onívoro. Sentir-se relaxada a respeito disso. Comprar livros nos quais acredita e dá-los de presente. Disseminar as idéias.


Qual é a sua esperança para o futuro do vegetarianismo?


Há muito tempo atrás em 1976 eu escrevi que se a visão feminista é a de um mundo sem opressão, então onde o consumo de carne entra nesta visão? Minha esperança é que trabalhemos em direção a um mundo sem opressão e que o façamos com a consciência de que não somos a única espécie na Terra. Pense nisso desta forma: se tornando vegetarianas, as mulheres reduzem o risco de contraírem seis das dez doenças mais mortais; então, escolhendo ser vegetarianas, feministas podem adicionar alguns anos de ativismo a suas vidas.

Quinze Perguntas para Carol Adams

Quinze Perguntas para Carol Adams


Publicado na quinta-feira, 2 de Outubro, 2003


usado sob permissão do Harvard Crimson

Por Elizabeth W. Green

Escritora da equipe do Crimson


Tradução: Coletivo Madu


Carol J. Adams, autora de As Políticas Sexuais da Carne e A Pornografia da Carne, adquiriu fama em círculos feministas-veganos-teóricos quando ela ligou a opressão de “espécie” com a opressão de gênero. Ela argumenta que a objetificação das mulheres e dos animais segue padrões similares: ambos o sexo frágil e os possuidores de quatro patas são sexualizados, desumanizados e finalmente abusados. FM se encontrou com ela depois de sua palestra na Quincy House e na Escola de Direito na semana passada.


1. Você era rotulada pelo campus como uma “teórica vegetariana-feminista” oferecendo uma “análise ecofeminista das opressões interconectadas do sexismo, racismo e especismo”. Em sua apresentação no salão de jantar da Quincy House na semana passada você chamou os aspargos de símbolos fálicos e disse que a salsa representava os pêlos púbicos. Deveríamos mesmo levar você a sério?


Desde quando um charuto é somente um charuto e um aspargo é apenas um aspargo? A maioria das pessoas não está disposta a olhar para as coisas de um jeito diferente do que nos treinaram a olhar. Imagens que estão em nosso rosto naturalizam a opressão, e reforçam a dominação, animalizando mulheres e feminilizando animais – servindo ambas como consumíveis.


2. O grupo de rock Consolidated canta uma canção com você no álbum Friendly Fascism. Você se consideram uma feminista amigável?


Todos os arranjos foram cumpridos com um aperto de mão e um sorriso.


3. Você mostra uma variedade de imagens pornográficas em seus livros e em suas apresentações. Alguém já veio a alguma das suas palestras e se desapontou em encontrar ecofeminismo?


Sim, e é por isso que não cobramos mais a taxa de entrada na saída.


4. Você criou a frase “antropornografia”. Você pode definir este termo, com referência ao popular seriado de ficção científica “Animorphs”?


Antropornografia é a apresentação de animais não-humanos como animais-prostitutas que desejam ser comidos. Desde a Vanity Fair deste mês com uma galinha morta de salto alto, até o “Peru Puta”, o sofrimento é transformado em diversão sexualizada. Com a antropornografia, a desigualdade das espécies está ligada à desigualdade de gênero; o desejo esconde a dominação. Enquanto acusam vegetarianas, veganas e ativistas dos direitos animais de antropomorfizar os animais – de projetar qualidades humanas nos animais não-humanos – parece que na verdade são onívoros e antropornógrafos que fazem isso. Ativistas dos direitos animais sabem que os animais são como os seres humanos porque os seres humanos são animais. “Animorphs”, através deste simpático tema mágico, sugere esta verdade também.


5. Eu perguntaria qual seu animal antropornográfico preferido, mas eu sinto que isso levaria a uma situação de “o pior dos dois males”. Então: se você pudesse escolher algum personagem antropornográfico para dar um soco na cara, qual seria?


Pessoalmente, eu acredito na não-violência, mas algumas das minhas amigas se ofereceram para derrubar o Hugh Heifer por mim.


6. Você tem algum animal de estimação?


Eu não tenho nenhum animal de companhia.


7. Você tem alguma coisa contra animais matando e comendo uns aos outros?


É sempre fascinante como onívoros se tornam obcecados com os hábitos alimentares dos lobos, dos leões e das hienas quando começamos a discutir como os animais de fazenda são criados em armazéns, alimentados com jornal e partes recicladas de outros herbívoros, e então assassinados. Vejamos, são os lobos ou os onívoros humanos que poderiam viver com tofu, tempeh e outras proteínas vegetais?


8. Você é bastante severa contra a pornografia e o estupro. Mas algumas pessoas argumentam que a escapatória proporcionada pela pornografia na verdade previne a violência sexual. Alguma sugestão para uma forma alternativa de escapatória?


Martha Vicinus explica o problema definindo como é a sexualidade de um ponto de vista “esmagadoramente masculino e heterossexual”: “A sexualidade é definida em termos do orgasmo masculino; é como uma força poderosa que vai aumentando até que é gasta em uma única ejaculação.” Quando tivermos igualdade, talvez nós consigamos também visualizar uma sexualidade que não precisa de objetos.


9. Qual seu prato vegano preferido?


Ravioli caseiro com molho pesto e ricota de tofu.


10. Quando ela te apresentou na semana passada, a vice-coordenadora da Quincy House, Jayne Loader, disse que quando ela é confrontada com um dilema ético ela se pergunta “O que a Carol faria?” Digamos que você tenha que escolher entre comer um pernil de carneiro inteiro e derrubar a Nona Emenda. O que a Carol faria?


Ela apontaria que esta pergunta faz parte de um jogo mental cartesiano, um ponto de vista que surge do privilégio masculino que vê tudo como feito de idéias, de abstrações. É o mesmo ponto de vista que acredita que as mulheres não deveriam votar e que os carneiros não têm sentimentos ou costelas – apenas pernis para outra pessoa devorar.


11. No filme American Pie, uma torta de maçã serve para despertar a sexualidade de um homem jovem. Já que a torta de maçã não contém nenhum produto cárneo, e pode ser feita sem leite, você aprova esta forma de sexualizar produtos alimentícios?


Eu acho que é uma homenagem a Portnoy's Complaint, onde ele se masturbou com um pedaço de fígado.


12. Eu sou uma onívora, ou, como você chama, “uma vegetariana bloqueada”. Eu vou pro Inferno?


Não, você o está vivendo agora. Você acha que mudar é difícil demais; não mudar é mais difícil, você apenas ainda não percebeu isso.


13. Você disse no salão de jantar da Quincy que você surgiu com a idéia para As Políticas Sexuais da Carne enquanto caminhava pelas ruas de Cambridge. O que nesta bela cidade te fez pensar?


É o ato de caminhar que é importante nesta estória. Caminhar, por ser rítmico, permite ao cérebro direito uma oportunidade para incubar idéias.


14. Você frequentemente fala sobre especismo ou opressão de espécie. Além de não comê-los, o que mais podemos fazer para elevar os animais na sociedade?


Pedestais sempre funcionam em uma emergência. Saltos, como eu aponto em A Pornografia da Carne, danificam a espinha. Eu estou interessada em conseguir com que os seres humanos parem de ver os animais não-humanos como seus para usar, comer, experimentar ou vestir. É curioso o quanto os seres humanos são dependentes de sua auto-conceitualização da existência dos animais como opostos, como inferiores, como os dominados, como os comestíveis.


15. Você tem levado sua mensagem a muitas faculdades ao redor do país. Eu tenho certeza de que nem todos os públicos a receberam igualmente. Qual foi a pior recepção que você já teve?


Biscoitos secos e suco de uva estragado, mas felizmente ninguém nunca preparou animais mortos ou ovos de galinha.

Uma Ética Feminista-Vegetariana

Uma Ética Feminista-Vegetariana:

Uma entrevista com Carol J. Adams


Witness Magazine

95, nº 9 (Setembro de 2002), págs. 10-13


Carol Adams é uma teologista ecofeminista, escritora e ativista que trabalhou extensivamente nos campos da violência doméstica e defesa animal.


The Witness: Como você vê as conexões entre a opressão dos animais e a opressão das mulheres e outros seres humanos?

Carol Adams: Nós frequentemente exibimos uma ansiedade sobre o que definimos como humano, e, historicamente, a cultura ocidental controlou essa definição de forma bem firme. Por muito tempo o que foi humano foi realmente o homem branco. Há uma historiadora feminista que disse que o período de tempo depois da revolução estado-unidense foi um período muito traumático para as mulheres, porque havia toda essa conversa sobre direitos humanos e no entanto os direitos da mulher estavam retrocedendo durante esse tempo. Humano era definido como homem, e implicitamente estava definido como branco.


Nós temos movimentos que tentam expandir a definição de humano porque o reconhecimento é que quando uma coisa é definida como não humana ela não deve ser levada a sério – ela pode ser abusada, ela pode ser maltratada. Quando eu vejo o lema “Feminismo é a noção radical de que mulheres são seres humanos”, eu não consigo concordar com ele. Eu não quero simplesmente redefinir humano para incluir mulheres. Eu quero problematizar a definição de humano, e especialmente o ponto de vista teológico que há Deus, nós seres humanos e todo o resto nesta hierarquia. Segundo, nós não podemos aceitar a noção de que os fins justificam os meios. E me parece que ambos o onivorismo e a opressão de outras pessoas se justificam porque o resultado final é algo que as pessoas querem. Em As Políticas Sexuais da Carne, eu falei sobre a estrutura do referencial ausente, que animais se tornam ausentes do onivorismo porque são mortos. E eles são feitos ausentes conceitualmente – as pessoas realmente não querem ser lembradas de que estão comendo uma vaca morta, um carneiro esquartejado, um porco massacrado. E o referencial ausente então se torna uma coisa que flutua livremente. Por exemplo, carne se torna uma metáfora para o que acontece com as mulheres. Outros seres que não possuem grande consideração podem ser igualmente vitimizados pela dicotomia meios/fins. Terceiro, eu sou contra a violência. Faça o menor mal possível. Opressão requer violência e implementos de violência, e esta violência geralmente envolve três coisas: objetificação de um ser, para que o ser seja visto como um objeto ao invés de um ser vivo, capaz de respirar e sofrer; fragmentação, ou esquartejamento, para que a existência do ser como um ser completo seja destruída de uma forma ou de outra; e então o consumo - ou o consumo literal do animal não-humano, ou o consumo da mulher fragmentada através da pornografia, da prostituição, do estupro e da agressão. Então eu vejo uma estrutura que cria o direito de abusar porque dentro da estrutura do referencial ausente os estados de objetificação e fragmentação desaparecem e o objeto consumido é experimentado sem um passado, sem uma história, sem uma biografia, e sem uma individualidade.


TW: Muitas pessoas hoje, especialmente com o crescimento do movimento ambientalista, diriam que não podemos maltratar a Terra ou criaturas não-humanas – mas elas veriam a cadeia alimentar como uma coisa natural ou divinamente ordenada, e não veriam animais comendo animais e seres humanos comendo animais não-humanos como maus-tratos.

CA: Eu acho que terminamos com dois problemas dentro de círculos religiosos. Onivorismo é tanto naturalizado quanto espiritualizado. Isso aconteceu na Academia Americana de Religião (AAR), onde nós fizemos o primeiro painel sobre animais há vários anos atrás. O que foi profundo sobre a experiência foi que os argumentos que eu ouvi das pessoas lá – as professoras – foram os mesmos argumentos que eu ouço quando estou em estações de rádios aqui no Texas. Quando se trata de animais, o nível de engajamento e reflexão é muito pouco desenvolvido.


Então o onivorismo é naturalizado. Há duas coisas que temos que responder aqui. Uma é que, supostamente, nós seres humanos podemos comer animais porque somos diferentes dos animais – e então, de repente, a justificativa para comer estes animais não-humanos é que outros animais não-humanos o fazem. Nos tornamos inconsistentes.


Segundo – e eu acho que isso é parte da cultura patriarcal – nós não apenas elevamos simbolicamente carnívoros em nossa cultura, nós elevamos aqueles que são chamados carnívoros de topo, carnívoros que na verdade comem outros carnívoros. A maioria dos onívoros come animais herbívoros. Seres humanos são um bom exemplo – nós comemos vacas, carneiros, etc. Entretanto, nós elevamos leões e águias em uma mitologia cultural – seres carnívoros que na verdade são mais carnívoros do que nós somos. O fato é, menos de 6 porcento dos animais realmente são carnívoros. Nós temos tanta superabundância de exemplos carnívoros em volta – programas naturais celebram o carnívoro – que nós temos uma visão limitada do porquê realmente os outros animais morrem. A maioria dos outros animais não morre comida por carnívoros.


Agora há algumas pessoas – ecologistas e ambientalistas – que dizem que querem usar tudo e que agradecem o animal pelo sacrifício, etc. Eu sinto que isso tem uma tendência de usar a linguagem de sacrifício que o Cristianismo meio que santificou sem nunca ter dito, bem, que talvez seja nossa vez de nos sacrificarmos. Por que é que todos esses anos somente os animais não-humanos devem se sacrificar para os seres humanos? Talvez seja a vez dos seres humanos se sacrificarem aos não-humanos não comendo-os. E segundo, como nós sabemos se esses animais querem ser sacrificados – especialmente se esse argumento está vindo de alguém que não é um caçador? Eles usam – de uma forma eles abusam – um relacionamento nativo com animais. De todas as formas nativas de se relacionar com animais não-humanos, as únicas que são trazidas à cultura dominante são as que podem ser usadas para justificar o que nós já estamos fazendo. Há várias culturas nativas que não comiam animais.


Quando nós estávamos no AAR alguém levantou e disse “É um mundo onde cão come cão.” Bem, minha resposta é não, não é, cães não estão comendo cães. Andrew Linzey, que foi pioneiro neste campo, perguntou “Jesus não veio mudar o mundo? Se somos cristãos, por que aceitamos que é um mundo onde cão come cão em qualquer de nossos relacionamentos?”


E se o argumento naturalizante não funciona, então o argumento espiritualizante entra em cena: “Bem, nos deram domínio, não somos como os outros animais. Mas o que é esse domínio? O domínio em Gen. 1:26 é garantido dentro de um mundo vegano.”


As pessoas espiritualizam e naturalizam porque não querem mudar. Você poderia facilmente espiritualizar e naturalizar um argumento completamente diferente.


TW: Você advogou uma ética de cuidado, ao invés de direitos animais. Como isso é diferente?

CA: Bem, minha preocupação quanto à linguagem de direitos animais é que ela vem do mesmo quadro filosófico que nos deu uma diferenciação entre o que era homem/humano e todo o resto. A linguagem de direitos universais é parte da noção do homem iluminista, que era um ser autônomo separado de todo o resto. Na verdade, ninguém é autônomo. Primeiro nós aprendemos em um relacionamento. Aprendemos a andar e aprendemos a falar em relacionamentos. Então a ética do cuidado critica a noção do homem autônomo sobre a qual o direito fundamental é baseado.


Mas, em segundo lugar, a linguagem dos direitos animais veio de uma necessidade de provar que não somente ela não era emocional, mas também masculina. Nós não estamos nos chateado pelos animais não-humanos, não é tão perturbador – é a coisa certa a fazer. E algumas e alguns de nós viemos e dizemos que é perturbador. Se chatear é uma forma legítima de conhecimento. Por que não podemos confiar na raiva e nas outras emoções que sentimos quando ouvimos sobre galinhas sendo debicadas e bezerros de vitela sendo removidos de suas mães em menos de 24 horas? Por que não podemos nos indignar e preocupadamente verdadeiramente informar quem nós somos como pessoas?


As pessoas retrucam dizendo que estamos dizendo que as mulheres se preocupam mais que os homens. Não, nós estamos dizendo que uma forma de pensamento identificada como masculina triunfou sobre uma forma de resposta e pensamento identificada como feminina.


TW: Parte do seu argumento é que nos dissociamos do animal que estamos comendo, e que não o vemos porque o transformamos em “carne”. Mas há outro tipo de argumento que diz que o problema verdadeiro é que nos separamos da fazenda, por exemplo, e de morar perto da terra. Nos separamos de todas essas realidades naturais, e se nos sentimos mal quando pensamos sobre isso é apenas um tipo de sentimentalismo porque fazendeiros ou caçadores não se sentem mal. Algumas pessoas no movimento dos homens sentiram que elas deviam sair e matar um veado quase como um ritual.

CA: E qual o problema em ser sentimental? Isso se remete à ética do cuidado. Talvez sentimento seja o que precisamos. Se há algo que te deixa desconfortável, talvez você não deva conformar suas emoções ao que a cultura está te dizendo, mas conformar a cultura ao que as suas emoções estão te dizendo, que é que há algo errado aqui. Eu cresci em uma comunidade fazendeira. Eu assisti a matança quando criança. Foi permitido a minha irmã mergulhar o porco morto em água fervente e havia um certo tipo de fascinação gótica ali. E eu ia para casa e comia carne – havia uma completa desconexão. Nós estávamos fascinadas, mas aqueles animais eram outros, aqueles animais eram seres objetificados. É um processo violento – e a maioria dos animais não são mortos na fazendo, eles são mortos de uma maneira horrível.


E eu acho que esta idéia de “vira homem” é exatamente o que, como cristãos, nós desafiamos. Qual o menor verso na Bíblia? “Jesus chorou.” O que Jesus fez no templo? O que estava acontecendo no templo? Animais estavam sendo vendidos, pelo amor de Deus. Jesus estava com raiva por causa de várias coisas, mas talvez uma delas fosse que outros seres estavam sendo vendidos ali.


TW: Você vê vegetarianismo como um caminho espiritual?

CA: Para mim, fazer o menor mal possível é um caminho muito espiritual e um caminho com integridade. As pessoas pensam que irão se machucar se desistirem da carne – há alguma natureza protetora lá que as impede de ligar os pontos sobre o bem-estar e a saúde humana e ambiental. Seria útil para as pessoas sentirem que estar em um caminho espiritual inclui interagir com a mudança, mesmo no nível mais básico do que elas vão comer. Vida espiritual é uma vida de abundância, mas quando se trata de onivorismo, as pessoas acham que vão experimentar escassez. A coisa mais importante que veganas e veganos podem fazer é simplesmente levar uma vida de abundância.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Banksy's Pet Shop

O artista guerrilheiro Banksy abriu sua primeira exibição oficial em Nova Iorque. A falsa loja de animais objetiva questionar "nosso relacionamento com os animais e a ética e sustentabilidade da fazenda-fábrica".

Genial!! ;)

http://news.bbc.co.uk/2/hi/in_pictures/7662797.stm

terça-feira, 4 de novembro de 2008

PETA E A CULTURA PORNOGRÁFICA

PETA E A CULTURA PORNOGRÁFICA


Uma Análise Feminista de “Eu Prefiro Ir Nua do que Usar Pele”


por Carol Adams


Tradução: Coletivo Madu


Muitas de nós em Feministas pelos Direitos Animais temos fortes sentimentos pela campanha publicitária do PETA, e eu quero dividir algumas das preocupações que surgem de alguém como eu, posicionada simultaneamente no movimento feminista e no movimento de defesa animal.


1. Uma conexão existe entre o tratamento de mulheres e o tratamento de animais. Esta conexão é basicamente um processo epistemológico no qual um sujeito se conhece através da objetificação de outros. Filosoficamente falando, epistemologia se refere a como nós sabemos o que sabemos e como ganhamos conhecimento. Uma epistemologia patriarcal responde à diferença (como raça, sexo, espécie) rotulando aquelas e aqueles que são diferentes como “outros”, e então objetificando quem são “outros”, de modo que sejam usados instrumentalmente. Ecofeministas chamam isto de uma “hierarquia de valores”, no qual o poder é inscrito sobre quem possui menos valor e este indivíduo é, portanto, visto como tendo menos valor. Uma feminista cunhou o termo “somatofobia” para se referir à hostilidade ao corpo. Em nossa cultura, o corpo tem menos valor que a mente ou a alma; logo, qualquer pessoa igualada com o corpo irá também ser não valorizada ou sub-valorizada. Este conceito nos ajuda a reconhecer o relacionamento entre diferentes formas de opressão: aqueles e aquelas igualadas com corpos (como pessoas de côr, animais e mulheres) ao invés de mentes ou almas (como pessoas brancas, seres humanos e homens) são oprimidas em nossa cultura por causa desta equação com o corpo e com umas às outras.


2. O problema é que este processo epistemológico, se sucedido, se torna invisível, e nós pensamos que estamos debatendo ontologia. Em outras palavras, o debate é mantido no nível de quem somos (ontologia) ao invés de como nós adquirimos o conhecimento de quem nós somos. Deixe-me dar um exemplo específico ao movimento de direitos animais. Algumas pessoas realmente vêem animais como “carne”: “para que outra coisa eles existem?” elas pensam, “eles existem para serem nossa carne”. Como sabemos, não há nada intrínseco à existência de um animal que o faz “carne”; é a posição do conhecimento de alguns seres humanos que os vê desta forma. Uma maneira ecofeminista de colocar isto é que quem está “acima” na hierarquia de valores, neste caso seres humanos, vê aqueles e aquelas que estão “abaixo”, neste caso animais, como usáveis, e desta visão vem a conclusão de que isto é o porquê de animais existirem: para serem de uso.


3. É também o mesmo processo epistemológico que vê corpos de mulheres pornograficamente. Pornografia foi historicamente uma maneira de homens instituírem seu estatuto de sujeito tendo outros que têm o estatuto de objetos. Como Susanne Kappeler diz em A Pornografia da Representação, a subjetividade dominante na cultura patriarcal é construída através da objetificação de outros. Aqui está um exemplo deste tipo de análise, uma análise clássica por Laura Mulvey do que é chamado o olhar masculino: “Em um mundo ordenado por desequilíbrio sexual, o prazer em observar foi dividido entre ativo/masculino e passivo/feminino. O olhar determinante masculino (humano) projeta sua fantasia sobre a figura da fêmea (humana), que é estilizada de acordo. Em seu tradicional papel exibicionista, mulheres são simultaneamente fitadas e expostas, com sua aparência codificada para forte impacto visual e erótico para que possa ser dito que elas conotam “fitabilidade”. Esta dificuldade em perceber o quanto a subjetividade confia nesta “fitabilidade” também explica a atração de uma campanha “nua”, porque ela vai ter atenção da mídia, já que a mídia é a fonte primária de encorajamento da “fitabilidade” da mulher. Esta dificuldade em perceber como a subjetividade dominante confia nesta “fitabilidade” também explica os problemas inerentes ao debate da campanha “nua” - algumas pessoas o vêem de uma forma, enquanto outras a vêem de outra. Em outras palavras, porque o epistemológico permanece invisível nós terminamos debatendo o ontológico.


4. Dada esta análise, a campanha “eu prefiro ir nua do que usar pele” é intrinsicamente problemática, provocando um debate de meios/fins entre nós. Mas a reviravolta adicional que ocorre com o anúncio da Pati Davis não é somente sua aliança com a Playboy, a qual fez o mal a mulheres através da pornografia um entretenimento de homens (porque ela leva adiante a objetificação da mulher, e reproduz dominação sexualizada), mas a preocupação especifica da bestialidade e a associação de Hugh Heffner com esta forma de pornografia. Sobre isto, ver Linda Lovelace, Ordeal, especificamente a p. 194: “Então Heffner disse que apesar de ele gostar de Garganta Profunda, ele estava mais interessado pelo filme que eu faria com um cachorro (sexo forçado por seu marido violento descrito nas páginas 105-113)”.


“Oh, você viu aquilo?” Chuck (seu marido violento) disse. “Oh aquilo foi ótimo,” Heffner disse, “Você sabe que nós já tentamos várias vezes, tentamos colocar uma garota e um cão juntos, mas nunca funcionou.” “Sim, isso pode ser bem complicado,” Chuck disse, “a mina tem que saber o que ela está fazendo.” “Isso é algo que eu gostaria de ver,” Heffner disse, “Eu acho que vi todo filme de animal (sic) já feito mas–”. Então Chuck oferece Linda como uma participante “voluntária”.


E então nós voltamos à minha primeira premissa, de que há uma conexão entre o tratamento das mulheres e o tratamento dos animais. Neste caso, o ponto de interseção é o uso pornográfico da bestialidade, no qual aquelas e aqueles de nós de atividade no movimento contra violência contra mulheres sabemos que é frequentemente uma ocasião para violentadores/estupradores maritais forçarem sexo entre um animal e sua parceira feminina. Eles tentam reproduzir a pornografia que consomem.


Nossa reclamação não é apenas a nº 4, por exemplo, que esta campanha publicitária – para qualquer pessoa com conhecimento do testemunho de Linda Lovelace – dá dicas de associação de Hugh Heffner com bestialidade, mas mais compreensivelmente o encontrado teoricamente na minha primeira premissa: que o nº 4 é inevitável por causa da posição epistemológica da objetificação. Vamos deixar isto claro. O problema não é que o PETA falha em reconhecer a interconexão do tratamento dos animais e o tratamento das mulheres. O problema é que, ao menos que reconheçam violência sexual masculina e como esta objetificação toma lugar perante o patriarcado, não vão verdadeiramente entender a violência contra animais.


Para um projeto no qual eu estou trabalhando sobre pornografia e animais, eu estive conversando com feministas que fazem campanha contra a pornografia ao redor do país. O que eu achei fascinante é que, apesar de eu não poder presumir que uma feminista, só porque ela é feminista, leu As Políticas Sexuais da Carne, eu tenho segurança em presumir que feministas anti-pornografia o leram. Como o reconhecimento do meu trabalho estava acontecendo, quando eu ligava para feministas eu não sabia perguntar a elas sobre o que elas acham que está acontecendo com pornografia que apresenta animais, me fez perceber que estes grupos de feministas realmente compreendem e entendem como o processo de objetificação afeta animais, sobre o que nós ativistas dos direitos animais tentamos educar as pessoas. Eu descobri uma afinidade entre sua análise e nossa análise. Esta é uma razão pela qual a campanha “nua” é tão perturbadora: um grupo aliado, muito familiarizado com a experiência de Linda Lovelace, é agora apresentado com uma campanha que anuncia que direitos animais não compreendem a objetificação de mulheres em geral, e especificamente sobre a origem do patriarcado na opressão de animais. Isto, para mim, é muito triste.


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Alguns exemplos das campanhas do Peta:

sadiefrost_peta.jpg (imagem JPEG, 450x604 pixels)

Peta-0.jpg (imagem JPEG, 400x518 pixels)

eva-mendes-peta-ad-01.jpg (imagem JPEG, 400x522 pixels)


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Mais sobre Linda Lovelace:
“A Verdadeira Linda Lovelace”, de Gloria Steinem
http://feminista.wordpress.com/2006/12/26/linda-lovelace/#more-1

Vivendo entre Comedores de Carne: Uma entrevista com Carol Adams

Vivendo entre Comedores de Carne:

Uma entrevista com Carol Adams


Satya: Uma Revista de Vegetarianismo, Ambientalismo e Defesa Animal

vol.2, nº 6 (Dezembro de 1995), págs. 6-7, 12


Tradução: Coletivo Madu


Carol Adams esteve trabalhando dentro dos campos de violência contra mulheres e crianças e vegetarianismo e defesa animal por mais de vinte anos. Ela é a autora de vários livros, mais notadamente As Políticas Sexuais da Carne: Uma Teoria Crítica Feminista-Vegetariana e Nem Homem nem Fera: Feminismo e a Defesa dos Animais. Com Josephine Donovan, ela editou dois volumes sobre feminismo e a questão animal. Ela vive nos arredores de Dallas, Texas.


P: Vamos começar com a pergunta óbvia. Como você vive entre comedores de carne?

R: Eu acho que uma maneira como eu convivo com onívoros é perguntar a eles e a elas sobre isso. No avião ontem à noite eu estava sentando ao lado de um psicólogo infantil e nós conversamos sobre o fato de eu ter pedido uma refeição vegetariana e ele ter comido uma galinha morta. Foi bastante fascinante porque, quando você diz que você está escrevendo sobre isso, então você pode dizer: “Então me diga: você disse que sabe que é eticamente errado; então o que acontece quando você se senta para comer carne?” Ao invés de ser vista como alguém dizendo “Olha, você está fazendo algo errado; então por que continua fazendo isso?” Eu posso fazer uma pergunta que leva as pessoas a refletirem sobre qual o processo que está cortando-as de sua própria percepção ética. Ele falou sobre ter um buraco em sua consciência e eu disse “Sim, mas eu não acredito, porque nossa cultura inteira diz que está tudo bem.” “Bem,” ele disse, “Nós temos um buraco coletivo em nossa consciência.”


P: Você sente raiva?

R: Quando o New York Times tem um artigo completo sobre o crescimento das fazendas-fábricas com porcos e o efeito disso no ambiente e nas pessoas e ignora completamente os animais, eu sinto muita raiva. Mas eu pego a raiva e a uso interpretativamente: O que isto representa? O que está acontecendo aqui? Então, teoricamente, eu posso me engajar ainda mais, porque eu quero tentar entender o fato e como mudá-lo. Pessoalmente, eu acho que percebi que precisava começar a negociar com as pessoas sobre o que elas iam pedir em um restaurante, e me dar permissão para dizer o que eu quero dizer. Algumas vezes o que onívoros fazem é tão aberto a análise que isso me deixa pasma. Então eu acho que o que eu fiz foi pegar aquela constante frustração enlouquecedora e a raiva e eu finalmente movi isso tanto que não mais me paralisa e imobiliza e eu continuo vendo toda esta coisa como um processo. Afinal de contas, eu costumava ser uma comedora de carne. Eu estou vivendo entre pessoas que ainda não completaram o processo pelo qual vegetarianas e vegetarianos passam.


P: Você acha sempre útil voltar naquele estado mental e pensar “Bem, como eu fiquei negando isso?” E como nós negociamos com nossas famílias?

R: Eu acho que uma maneira como nós pessoalmente lidamos com isso foi nos exilarmos. Minha família inteira está no norte, eu estou no Dallas. Eu não vou pra casa para a maioria dos importantes rituais que eu geralmente teria que aguentar. Então, eu posso exercitar esse tipo de controle. Eu tive sucesso em negociar um churrasco vegetariano, onde as únicas coisas preparadas foram hambúrgueres e cachorros-quentes vegetais. E foi um grande sucesso, mas eu tive que negociar isso com antecedência. Alguns dos membros da minha família têm muito interesse em vegetarianismo, enquanto alguns dos membros da minha família são muito controladores... Então, nós não conversamos sobre isso. Afinal de contas, onívoros vivem entre onívoros. Tudo que eles e elas fazem é refletido de volta como correto. Outra forma como eu lido com isso é através de um entendimento feminista do processo social. Para mim está se tornando mais e mais profundo que o modo como a pornografia reflete uma mensagem sobre quem as mulheres são é o modo que uma cultura onívora reflete uma mensagem sobre o quê – e não quem – os animais são. Então, tentar reconfigurar nossa conceitualização é muito importante.


P: Você acha que devemos retrucar?

R: Eu acho que é importante retrucar em algumas vezes. Primeiro de tudo, eu acho que vegetarianas e vegetarianos pensam mais literalmente que outras pessoas, porque você está restaurando o “referencial ausente”. Nós não estamos vendo comida, nós estamos vendo um cadáver, estamos vendo animais mortos. Porque nós pensamos literalmente assim como metaforicamente, nossa tentativa de mover para o literal irá levantar um certo grau de hostilidade e perturbação porque nossa cultura em geral quer se mover para longe do literal. Ela quer se desprender. Por exemplo, nós não queremos saber de onde nossas roupas vêm. Nós não queremos saber que a roupa está sendo feita por crianças ou mulheres em condições terríveis. Nós não queremos restaurar este referencial ausente, nós não queremos que a verdade literal do que nossa cultura produz para consumirmos seja conhecida. Segundo, eu sempre digo que vegetarianas e vegetarianos não devem se engajar no assunto de vegetarianismo se há um animal morto presente e sendo comido, porque há muita tensão. O onívoro terá uma maior necessidade de justificar o que está fazendo, mesmo que não esteja consciente disso, porque o está consumindo no momento.


P: Você concorda com Karen Davis que nós precisamos parar de nos desculparmos?

R: Eu adoro isso. Nós realmente precisamos parar de nos desculparmos, mas eu acho que Karen agiria diferente em relação a tudo isso. Ela é irredutível sobre a posição ética de não olharmos para o lado e não nos recusarmos a questionar. E eu concordo, e não estou falando sobre desculpas. Eu não estou falando que precisamos de uma retórica de desculpa: “Oh, lamento ter aborrecido você.” Mas o que estou tentando fazer é insistir e dizer “O que faz você sentir aborrecimento?” Eu acho que o processo não é dizermos que somos vegetarianas ou vegetarianos tanto, porque estamos do outro lado deste processo. O processo é descobrir o que é catalítico para aquela pessoa. Ao invés de defender vegetarianismo enquanto as pessoas comem carne, eu digo “Como você consegue continuar comendo carne quando sabe que é cruel?” Eu não acho que temos que defender nossa dieta. Eu acho que não precisamos nem de desculpas nem de defensividade. Eu me lembro do filme Babe. De uma forma, para evitar o consumo, Babe tem que estabelecer sua individualidade e, portanto, sua insubstituibilidade. Ele tem sucesso em ser visto como um corpo com biografia e individualidade, e logo tem sucesso em permanecer vivo. Mas também há um pato tentando estabelecer sua insubstituibilidade porque patos e patas são visto como um coletivo. Esses animais são coletivizados, vistos como termos de massa mesmo quando vivos. Mas uma pata é morta e o cadáver é comido no Natal. No final do filme, quando os créditos estavam passando, dizia que não houve crueldade contra animais neste filme. Então minha filha de seis anos disse “Isso significa que comeram carne falsa?”, o que eu achei muito profundo, porque nós na nossa cultura não achamos que é cruel comer animais. Quer dizer, uma vegetariana de seis anos consegue eliminar uma cultura inteira de desculpas. O que precisamos fazer é criar uma força, e um cara ontem à noite disse que algo inovador demora um tempo pra ser aceito. Ele previu que daqui a 200 anos as pessoas não comeriam animais. E eu disse “Eu não quero esperar 200 anos. Isso é um monte de animais.”


P: Eu não sei se temos 200 anos para esperar.

Q: Bem, sim. Não temos. Eu não posso dizer que tenho um projeto para como resolver estes assuntos de família, porque eu acredito que qualquer assunto que uma família ou casal tiver, onivorismo e vegetarianismo se tornam veículos para despejar estes assuntos de relacionamento que não foram trabalhados. Então, isso se torna mais confuso. Para um casal, por exemplo, o assunto onivorismo/vegetarianismo vai terminar sendo sobre controle: o que pode ser trazido a uma cozinha, e quais panelas podem ser usadas. Todas essas coisas se tornam meios de controlar o comportamento e para manipular assuntos sobre amor e afeição.


P: Isso é porque a carne é uma questão de poder? Isso é parte de todo o processo de pensamento sobre a carne?

Q: Bem, vamos conversar especificamente sobre o que é normalmente o padrão deste casal, que é normalmente que é a mulher que é a vegetariana e o homem que é o onívoro. Eu estava lendo O Contrato Sexual de Carol Pateman. Ela está falando sobre a esposa e o estatuto das esposas. Antes mesmo de termos conversas sobre direitos, antes dessa noção de “fraternidade, igualdade, liberdade,” antes de haver o Contrato Social que é meio que fundacional da filosofia ocidental, havia um Contrato Sexual garantindo acesso sexual a mulheres. Uma das coisas sobre acesso sexual a mulheres é que todo homem deve ter uma esposa, e um dos deveres da esposa é servir o homem. Eu estava pensando sobre isso em termos de carne, porque muitas mulheres dizem para mim: “Eu poderia ser vegetariana, mas meu marido não.” Então, claramente elas estão também decidindo que o humor dele é tão importante que elas não podem atender a suas próprias necessidades. É muito clássico. Onivorismo se torna outro veículo para auto-negação para colocar as necessidades do parceiro e do marido primeiro. E isto se remete a toda a forma como as mulheres se tornam zeladoras, e terminam negando seus próprios corpos e suas próprias necessidades. Eu acho que há o medo da raiva masculina sobre não ter carne em uma refeição. Eu não quero dizer agressão, porque quando homens agridem e usam mulheres como desculpa, isso não é o que está realmente acontecendo. Eles estão agredindo para estabelecer controle, e a ausência de carne é somente sua mais recente desculpa. Pode ser aspirar a casa, pode ser qualquer coisa. No entanto, deve haver muitas mulheres que têm medo do que a ausência da carne significa para seus maridos, e o tipo de raiva que isso geraria. Nós estamos falando de pessoas sem qualquer tipo de análise feminista. Elas simplesmente sabem que não oferecer carne criaria raiva, e isso talvez requeira que examinem o relacionamento, um relacionamento no qual claramente elas não têm muito poder. Então, “carne como uma questão de poder” em termos do que eu argumento em As Políticas Sexuais da Carne deve incluir este entendimento de todo o Contrato Sexual e a expectativa de deveres para esposas.


P: Como uma ética de cuidado feminista pensa sobre animais?

R: Pessoas que comem animais estão se beneficiando de um relacionamento dominante/subordinado, mas nossa cultura encoraja invisibilidade das estruturas permitindo isso, e a invisibilidade dos animais machucados por isso. De fato, os animais são vistos como massas unificadas. Há uma completa negação de sua individualidade, até que isso não é visto como subordinação. Nós vemos carne como a razão ontológica para a existência dos animais, que eles estão lá para serem comidos. Mas quando se fala sobre intervir com uma ética de cuidado feminista, uma das coisas que precisamos dizer é “Pelo que você está passando.” Não é que precisamos dizer isto empaticamente somente a seres que podem falar nossa língua – como um meio de se conectar – mas que nós perguntemos isso à vaca “leiteira”, a vaca sendo ordenhada, a galinha em uma fábrica de ovos, e qualquer animal prestes a ser morto. “Pelo que você está passando?” Primeiro de tudo, para ver a legitimidade desta questão, que animais estão passando por algo, e segundo, para se educar sobre o que esta experiência é. E nós precisamos confiar que se nós nos colocarmos em situações para aprender a responder esta questão, os animais vão nos dizer, de outras maneiras além de palavras.


P: E quanto a onívoros que dizem “Eu adoro o gosto de carne”?

R: Onívoros são muito felizes comendo comida vegetariana, desde que não saibam disso. Uma vez, eu fiz almôndegas de nozes, e todo mundo estava convencido de que era carne. Acharam que eu tinha desistido - “Oh, a Carol desistiu. E isto está delicioso.” E gostaram demais, achando que eu tinha lhes servido animais mortos. Foi muito profundo pra mim, porque era ao símbolo que estavam se agarrando. Seu estômago não viu a diferença, mas enquanto suas mentes estavam perdidas, não importava o que estava indo em seus estômagos. Então eu percebi que era o simbolismo que os prende. O psicólogo de crianças no avião disse que ele sabia que era eticamente errado e que ele esteve ficando cada vez mais tempo sem carne. Mas então, ele diz, ele começa a desejar carne. E eu disse “Me diga o que deseja. O que em relação à carne que você deseja?” “Eu não sei”, ele disse. “É um hambúrguer.” Eu disse “Você deve estar desejando ferro.” Frequentemente pensamos que nossos corpos estão treinados a converter um desejo por uma coisa específica a como nós o treinamos: uma vegetariana que conheci sabia traduzir que, quando desejava filé, estava necessitando de ferro.


P: Então, como conversamos com onívoros?

R: A pessoa com o menor nível de informação determina a discussão. Consequentemente, a pessoa onívora – que geralmente tem menos informação sobre o onivorismo que a vegetariana – determina o nível da discussão. Nós devemos nos levar a esse nível no início. A pergunta é como uma pessoa straz todo o conhecimento para a discussão, por causa da ignorância que está determinando nosso nível de engajamento. Eu acho que esta é uma das coisas mais frustrantes para vegetarianas e vegetarianos: nós falamos em criar um mundo não violento, mas há tanto que nos paralisa de manter essa análise por causa do nível de ignorância no qual o assunto é discutido. O que precisa ser abordado é precisamente o que é excluído pelo nível da discussão.


P: O que você diz quando as pessoas dizem que as vegetarianas têm um problema pessoal com a carne?

R: Por vivermos em uma cultura terapêutica no momento, tudo vai ser visto como um problema individual ao invés de um reconhecimento e compromisso político. Minha resposta é que indivíduos vegetarianos não têm um problema pessoal com a carne. Nós temos um problema com o que as pessoas estão dizendo que é comida. Nós estamos retrocedendo um nível. Então as pessoas terminam dizendo que é puritanismo, que estamos em negação, que somos aceticistas - que nós temos algum problema com o prazer – o mesmo nível de carga despejado sobre feministas anti-pornografia. Mas não há prazer sem privilégio, o privilégio de ser membro da cultura dominante que está dominando mulheres, pessoas de cor, e animais. Nós precisamos ter o privilégio reconhecido e as estruturas sociais que criam privilégios, e a maneira como o privilégio é recompensado através do prazer, um prazer que na verdade resulta do mal a outra pessoa. Tudo se remete de certa forma ao privilégio do controle. Levantar vegetarianismo como um assunto ético diz aos princípios auto-definidos de nossa cultura: “O que alegamos não é o que estamos fazendo.”

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Primeiro de Novembro - Dia Mundial Vegano

Em 1888, a Princesa Isabel assinava a Lei Áurea, dando um fim oficial à escravidão negra no Brasil. Durante vários séculos, foi considerado normal explorar pessoas que fugiam do padrão adotado pela sociedade, a pele branca. A presença de alta quantidade de melanina na pele era o critério adotado para que uma pessoa recebesse o estatuto de propriedade, sujeita a qualquer forma de uso por seu senhor. Quem fugia deste padrão recebia o rótulo de “inferior”, indigno de respeito ou consideração. Trabalhos forçados, tortura, estupro e assassinato de quem possuía grande quantidade de melanina na pele foram permitidos legalmente e aceitos socialmente. Esforços do movimento de direitos humanos conseguiram conscientizar a população e mudar este quadro. Apesar do racismo persistir até hoje, não é mais válido que a cor da pele seja usada como desculpa para negar a liberdade de uma pessoa.


Abolimos a escravidão negra, mas não eliminamos o escravismo de nossas vidas. A escravidão achou um jeito de sobreviver, nos enganando à adoção de outro critério. Atualmente, é aceito que o não pertencimento à espécie Homo sapiens sapiens seja um bom motivo para estabelecer o estatuto de propriedade a uma pessoa e condená-la à submissão. Convivemos diariamente com a escravidão de animais não-humanos. Os outros animais estão sujeitos a trabalhos forçados, tortura, estupro e assassinato nas mãos dos seres humanos. Quando o desrespeito é imposto a um animal, a resposta é a mesma, seja este um animal humano ou não-humano. No reino animal, o sofrimento é universal. No entanto, o antropocentrismo afirma que a dor e o sofrimento dos outros animais não é tão relevante quanto estas em seres humanos. Na verdade, não há diferença fundamental entre os animais no que diz respeito à sua forma de reação à opressão.
















É verdade que todos os seres vivos, sejam eles plantas, fungos, bactérias, protozoários ou animais, possuem o interesse natural de permanecerem com vida. Entretanto, a ciência nos mostra que há nos animais, em adição a este interesse natural, o interesse senciente. Em algum momento da evolução, nós e os outros seres classificados dentro do reino Animalia fomos agraciados com a habilidade única de sermos sujeitos de uma vida. Todos os animais são iguais na propriedade de consciência e na capacidade de experimentar sensações, e estas características nos unem no desejo de viver livre de opressão. A senciência pode variar em maior ou menor grau entre suas diversas espécies, mas está presente em todos os animais.


Mas assim como todo animal, precisamos de alimento, de abrigo e de proteção, e isso nos obriga a tirar vidas. Entretanto, nosso onivorismo, em conjunto com nossa ética, nos dá o poder de escolher qual vida devemos tirar, a de um ser não senciente, dotado apenas do interesse comum a todos, ou a de um ser senciente, dotado de um interesse senciente adicional. O princípio ético do menor mal nos obriga a escolhermos o primeiro e pouparmos o segundo. A despeito disso, muitas vezes escolhemos retirar a vida de um animal, por motivos que não podem ser validados eticamente.


É dito que somos “superiores” por possuirmos inteligência e racionalidade. Entretanto, além disto não ser motivo suficiente, este não é um fato. Crianças recém nascidas e seres humanos com incapacidades mentais severas não possuem a inteligência ou a racionalidade de um gorila, capaz de até mesmo aprender a linguagem humana de sinais, mas isto não nega o pertencimento destas pessoas à comunidade moral. Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que não medimos esforços para a proteção de crianças, ignoramos seres com tanta ou maior capacidade cognitiva quanto elas. A verdade não pode ser escondida: o único motivo utilizado para justificar o uso dos outros animais é o de não pertencerem à nossa espécie, um motivo tão arbitrário quanto a cor da pele. Esta forma de discriminação é denominada especismo, e é tão condenável quanto qualquer outra forma de preconceito. A exemplo dos direitos humanos, o movimento de direitos animais busca mudar esse paradigma.


Seres humanos usufruem dos espólios da escravidão animal. Nos alimentamos com escravidão, nos vestimos com escravidão, praticamos experimentos com escravidão, e nos divertimos com escravidão. Somos nós que escravizamos – cada indivíduo entre nós. Somos nós que construímos a estrutura que permite que a foice escravagista ceife vidas. Ao consumirmos produtos oriundos de exploração animal, estamos dando nossa aprovação para que estas práticas continuem. Nós podemos fazê-las cessarem, se assim desejarmos. Nossa união pode dar fim às jaulas, a todas elas, seja onde forem. Veganismo é a recusa de qualquer prática derivada de opressão animal, através do vegetarianismo estrito e do boicote a indivíduos e organizações que usam animais para qualquer fim. Veganas e veganos decidem fazer parte de um mundo novo, justo e igualitário, onde qualquer suposta “superioridade” é eliminada. Somos iguais, independente de raça ou espécie.


A alforria animal está em nossas mãos. Sonhamos com o dia em que não aceitemos mais que a espécie à qual uma pessoa pertence seja usada como desculpa para negar sua liberdade, um sonho cada dia mais perto de ser realizado. Cada pessoa que se junta à luta pela libertação animal é mais um tijolo nas muralhas que nos separam das prisões do preconceito. Eu eliminei a escravidão de minha vida, e você também pode. Ajude a construir a liberdade. Tenha um feliz Dia Mundial Vegano.


Dano

Coletivo Madu

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Com cérebro de "semente de gergelim", abelha conta só até quatro

27/10/2008 - 13h26

Com cérebro de "semente de gergelim", abelha conta só até quatro

da Reuters, em Sydney

Pesquisadores descobriram que abelhas podem contar até quatro, divulgou a rádio ABC (Australian Broadcasting Corporation).

Reprodução
Abelhas têm capacidade de contar somente até quatro, indica estudo realizado na Universidade de Queensland, na Austrália

Abelhas têm capacidade de contar somente até quatro, indica estudo realizado na Universidade de Queensland, na Austrália

Um cientista da Universidade de Queensland, na Austrália, pôs cinco marcadores dentro de um túnel e colocou néctar em um deles. As abelhas que entraram no túnel voaram até a marca com o néctar, e continuaram fazendo a mesma coisa após a retirada do líquido.

"Percebemos que, se você as treina para ir à terceira marca, elas vão focar na terceira marca. O mesmo vale para a quarta marca", diz Mandyam Srinivasan. "Mas sua habilidade em contar parece ir apenas até aí. Elas não contam além de quatro."

"Quanto mais olhamos para essas criaturas que têm um cérebro do tamanho de uma semente de gergelim, mais impressionados ficamos. Elas realmente têm muitas capacidades que atribuímos apenas ao ser humano, tido como superior."

A pesquisa foi conduzida em parceria com a cientista sueca Marie Dacke.


http://www1.folha.uol.com.br/folha/bichos/ult10006u460878.shtml


Abelha inteligente!!!!! =)